No mês de conscientização do 'Setembro Amarelo', voltado à prevenção do suicídio e aos riscos da depressão, a psicóloga Karla Kathleen, do Instituto Social Ágatha, traz um alerta importante sobre o aumento expressivo de mulheres vítimas de violência doméstica que integram os índices de tentativa de suicídio.
“Dados recentes do Ministério da Saúde mostram o impacto que a violência tem na elevação das tentativas de suicídio entre mulheres. Homicídios e suicídios representam 83% das mortes por causas externas entre mulheres que já sofreram agressões”, afirma Karla. O relatório oficial aponta que a chance de morte por esses meios é 151 vezes maior em comparação à população feminina em geral, destacando a violência como um fator determinante nos casos de suicídio entre essas mulheres.
Segundo Karla, "prevenir o suicídio entre mulheres exige mais do que ações pontuais. É necessário criar uma rede de apoio contínua que ofereça acolhimento, escuta e empoderamento, reconhecendo a violência como uma causa decisiva para o desespero, mas também como algo que pode ser superado com cuidado e solidariedade."
O impacto da violência é ainda mais alarmante entre os extremos de idade: mulheres com mais de 60 anos que sofreram violência têm 311 vezes mais chances de morrer por homicídio ou suicídio. Já entre meninas de até 9 anos, o risco é 256 vezes maior em comparação às que não enfrentaram episódios de violência.
De acordo com o boletim "Elas Vivem: Liberdade de Ser e Viver", da Rede de Observatórios da Segurança, foram registrados 3.181 casos de violência contra a mulher em 2023, o que significa que, a cada 24 horas, oito mulheres sofrem agressão, tortura, ameaças, assédio ou feminicídio. O aumento de 22% em relação a 2022 evidencia o agravamento da violência de gênero no Brasil.
Entre esses casos, 586 foram feminicídios, sendo mais de 70% cometidos pelo companheiro ou ex-companheiro da vítima. “O feminicídio e o suicídio são desfechos trágicos de um ciclo de violência que, muitas vezes, podem ser identificados precocemente. Sinais como isolamento, medo constante, ameaças e mudanças de comportamento são alertas que não podem ser ignorados. Identificar e apoiar essas mulheres é crucial para evitar que a violência alcance o ponto mais extremo”, reforça Karla.
A psicóloga ressalta que a violência contra a mulher não se restringe a relações afetivo-sexuais. “Ela pode ocorrer em diversos contextos, como no ambiente familiar, no trabalho ou em espaços públicos. Trata-se de um problema estrutural que ultrapassa os laços pessoais e reflete desigualdades de gênero profundamente enraizadas na sociedade.”
Por fim, Karla destaca a importância de identificar uma vítima de violência doméstica ou uma pessoa em risco de suicídio para salvar vidas. “Sinais como isolamento, mudanças de comportamento, medo constante e expressões de desesperança não devem ser ignorados. Oferecer apoio, escuta e encaminhamento adequado é fundamental para interromper o ciclo de violência e prevenir tragédias”, conclui.
Instituto Social Ágatha
O Instituto Social Ágatha é uma organização sem fins lucrativos que desde de 2015 atende mulheres sergipanas vítimas de violência doméstica e em situação de vulnerabilidade social. O Instituto oferece um acolhimento integral, com suporte psicológico, social e pedagógico para as mulheres que buscam reconstruir suas vidas longe da violência.
Além dos serviços imediatos, o Instituto Social Ágatha também oferece cursos e programas de capacitação que visam o empoderamento e a independência das assistidas. O compromisso do Instituto não termina com a conclusão dos cursos; as mulheres continuam sendo acompanhadas por uma equipe multidisciplinar dedicada, garantindo um suporte contínuo e ajudando-as a superar os desafios que surgem ao longo do processo de recuperação.